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Maioria dos estudantes das Ifes é de baixa renda

Em 21/05/19 08:13.

Pesquisa da Andifes revela ainda que 51% dos universitários de instituições públicas federais de ensino superior são negros e 64% fizeram o Ensino Médio em escolas públicas

Versanna Carvalho

 

Nesta semana, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), liberou o tão aguardado resultado da V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais. O resultado geral mostra que 51,2% dos participantes do levantamento se identificaram como negros (pardos e pretos).

Do ponto de vista econômico, 70,2% possuem renda mensal familiar per capita de até 1,5 salários mínimos. Em Goiás esse número atinge 75,5%. Ou seja, três quartos dos graduandos. O percentual mais elevado da Região Centro-Oeste. O menor índice foi observado no Distrito Federal (47,1%) e o maior no Pará (88%). Entre os estudantes incluídos nesta faixa, a renda média per capita é de R$ 640,70.

Desde a primeira edição da pesquisa em 1996 houve uma variação no percentual de estudantes das camadas sociais com menor renda. O índice manteve-se estável nos três primeiros levantamentos e passou a aumentar nos dois mais recentes. Em 1996 (44,3%), 2003 (42,8%), 2010 (43,7%), 2014 (66,2%) e 2018 (70,2%). A implementação da Lei de Cotas (12.711) a partir de 2012 contribuiu para esta mudança de cenário.

Escola pública

Outro dado apresentado pela Andifes classifica os graduandos segundo o tipo de escola cursada durante o Ensino Médio e, mais uma vez, fica evidenciado que as instituições federais de ensino superior recebem prioritariamente estudantes oriundos da rede pública de ensino (64,7%).

O percentual de graduandos das ifes que fizeram o Ensino Médio exclusivamente em escolas públicas passou de 37,5% em 2003 para 60,4% em 2018. Essa mudança também foi observada a partir de 2014.

Um dos resultados que mais impressionam é a evolução das formas de entrada segundo o ano de ingresso no período de 2005 a 2018. Já é possível perceber alterações em 2014, mas se tornam mais evidentes em 2015. Em 2005, 96,9% dos graduandos chegavam às ifes por ampla concorrência e 3,1% por meio de cotas. Ano passado, a situação estava mais equilibrada. Foram registrados 51,7% ingressantes por ampla concorrência e 48,3% por cotas.

A pesquisa Andifes foi realizada com estudantes de graduação de 63 universidades e 2 Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefets) de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados entre fevereiro e junho de 2018 pela internet. Foram validados 424.128 questionários. O equivalente a 35,35% dos estudantes.  

Defesa das universidades

O vice-presidente da Andifes e reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira, acredita que a pesquisa traz inúmeras possibilidades de aplicação. Principalmente no atual contexto de ataque às ifes e à pesquisa científica. "A primeira, sem dúvida, é na defesa e na constatação de uma realidade que ainda muitos atores do governo e da mídia desconhecem que é a composição, do ponto de vista da renda, dos estudantes das universidades. Fica muito claro que os ingressantes das universidades federais são em sua maioria, das classes C, D e E nas matrículas" ressalta.

O reitor da UFG afirma que o levantamento também é um instrumento de gestão de muito valor para as ifes, pois permite compreender como conduzir a assistência estudantil de modo a torná-la o mais efetiva possível. "Temos informações sobre os meios pelos quais o estudante se comunica, sua origem, necessidades que podem levar a problemas de evasão. Enfim, poderemos utilizar os dados coletados para ajudar a evitar e evasão e a promover o sucesso do acadêmico", exemplifica.

Na opinião do vice-presidente da Andifes, os dados que mais chamam a atenção na V Pesquisa do Perfil Socioeconômico e Cultural dos Estudantes de Graduação das Universidades Federais são justamente os que dizem respeito à faixa de renda e às cotas. "Mostram a vulnerabilidade do ponto de vista material e ressaltam a importância da assistência estudantil. Os números mostram que os diferentes perfis de estudantes são muito próximos dos dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]", compara.  

Ministro

Os gestores da Andifes estiveram em Brasília na última quinta-feira (16/05) para se reunir com o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Na ocasião foi entregue um resumo executivo da pesquisa com os principais indicadores. Os reitores também levaram ao titular da pasta outras preocupações como os problemas que envolvem a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Um dos quais envolve a licitação da gráfica responsável pelas provas. "O ministro garantiu que não há risco de o Enem deixar de acontecer, inclusive na data prevista", comenta.

Segundo Madureira, Weintraub assegurou que não haverá cobrança de mensalidades na graduação das federais, mas não fez qualquer menção sobre a pós-graduação. O ponto no qual o ministro da Educação se mostrou mais resistente diz respeito às bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o corte no orçamento das federais. A alternativa apresentada foi tratar individualmente os dois problemas com as ifes.

"Isso não atende à demanda da Andifes pois todo o sistema é atingido. De um jeito ou de outro. Todo o sistema para se houver cortes. Nessa parte, as nossas expectativas não foram atendidas, por isso vamos continuar a trabalhar na reversão dos cortes", constata o vice-presidente da Andifes.     

Sobre o Decreto 9.794 de 14 de maio de 2019 que altera as regras para a nomeação de reitores e tira a autonomia dos reitores para fazer nomeações e institui o Sistema Integrado de Nomeações e Consultas (Sinc) no âmbito da administração pública federal. "Ressaltamos a importância da escolha do primeiro nome da lista tríplice e o ministro respondeu que 'vai cumprir a lei'", comenta Madureira que observa que esta foi a primeira reunião e que Weintraub se colocou à disposição para dialogar permanentemente.  

Fonte: Secom/UFG

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